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Foto do escritorarthur ledine.

MALDITO DIÁRIO ✸ POEMA DE ARTHUR LEDINE.

Atualizado: 11 de fev.

Tornado poeta pela didática lírica de suas professoras, Arthur Ledine escreve desde a infância, quando participava de antologias escolares ribeirão-pretanas. Crescendo, levou o verbo de cultivo a culto, tendo como igreja o subúrbio e o interior do Brasil. "O livro de Parlós Videira Malta" e "O barro onde o jabuti se deita", publicados pela editora Libertinagem, são seu material de catequese. Em 2024, celebra seu sesquicentenário, apesar da aparência jovem.

 

non 

non cher 

maldito diário 

acompanhante sombra dos meus malditos feitos 

hoje eu não vou te dar orgulho 

nem a você nem aos meus pais 

querido ou melhor maldito diário 


hoje eu me esbaldei nos cigarros que eu prometi abandonar e não

não sinto a menor culpa religiosa que tás acostumado a me ver desfilar pois não

não nesta madrugada ao sabor do álcool eu não me sinto minimamente

envergonhado sob o olhar atento do meu avô enquanto disfarço a fumaça com

jazz there was ei boy 

ei very estrenged neiture boy 

que dizem ter andado além 

do convém 

dos salões enfim 


que dizem ter andado além 

das esquinas triangulares que convêm 

porque o telefone que eu me lembro é o do meu avô 

este que me julga tão silenciosamente bebericando o vício que eu sustento enquanto a luz vacila pelo banho de vovó que fechou a janela porque 


there was ei boy 

ei smokey lungey losty boy 

sonhando com planuras peitorais perdidas na filha do báltico

sonhando lacrimejado sob os pés de uma cereja-país perenifértil sonhando com diplomas argentos para abrir caminhos 

arquipelagomente congelados de afeto impotente 


there is ei boi 

ei very estranho encantadinho 

um boi de sonhos irreais 

peixes sob o gelo 

cheerleader de petersburgo independente 

hermitágios golderosos diamantados 

ovo de invocação dos sonhos quizareiros 

primos teutos e britos sobre primeiraguerras familiares 

ó riqueza de noites brancas 


there are sam bois 

que em flores e quintinos choram 

destinos motociclaneiros ruidosos nas madrugadas 

carregando namoradas pobres de afeto e realização 

bêbados de adegas esquinógenas fertilizadas em colos de

ébanos rainhas curtas 


diário 

non cher 

maldito diário 

reclama e conclama o velho 

que não se satisfaz com nada 

eu canto o jazz e o jazz e o jazz  

mas não é suficiente porque eu fui criado assim 

não adianta discutir 

ele não quer cuidar de ninguém nem aceita

que haja resistência sob as rodas da motocicleta 

que haja existência sobre as mortes da triângula perplexa de minas gerais inadvertas das peculiaridades sonurnas 

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