Tornado poeta pela didática lírica de suas professoras, Arthur Ledine escreve desde a infância, quando participava de antologias escolares ribeirão-pretanas. Crescendo, levou o verbo de cultivo a culto, tendo como igreja o subúrbio e o interior do Brasil. "O livro de Parlós Videira Malta" e "O barro onde o jabuti se deita", publicados pela editora Libertinagem, são seu material de catequese. Em 2024, celebra seu sesquicentenário, apesar da aparência jovem.
non
non cher
maldito diário
acompanhante sombra dos meus malditos feitos
hoje eu não vou te dar orgulho
nem a você nem aos meus pais
querido ou melhor maldito diário
hoje eu me esbaldei nos cigarros que eu prometi abandonar e não
não sinto a menor culpa religiosa que tás acostumado a me ver desfilar pois não
não nesta madrugada ao sabor do álcool eu não me sinto minimamente
envergonhado sob o olhar atento do meu avô enquanto disfarço a fumaça com
jazz there was ei boy
ei very estrenged neiture boy
que dizem ter andado além
do convém
dos salões enfim
que dizem ter andado além
das esquinas triangulares que convêm
porque o telefone que eu me lembro é o do meu avô
este que me julga tão silenciosamente bebericando o vício que eu sustento enquanto a luz vacila pelo banho de vovó que fechou a janela porque
there was ei boy
ei smokey lungey losty boy
sonhando com planuras peitorais perdidas na filha do báltico
sonhando lacrimejado sob os pés de uma cereja-país perenifértil sonhando com diplomas argentos para abrir caminhos
arquipelagomente congelados de afeto impotente
there is ei boi
ei very estranho encantadinho
um boi de sonhos irreais
peixes sob o gelo
cheerleader de petersburgo independente
hermitágios golderosos diamantados
ovo de invocação dos sonhos quizareiros
primos teutos e britos sobre primeiraguerras familiares
ó riqueza de noites brancas
there are sam bois
que em flores e quintinos choram
destinos motociclaneiros ruidosos nas madrugadas
carregando namoradas pobres de afeto e realização
bêbados de adegas esquinógenas fertilizadas em colos de
ébanos rainhas curtas
diário
non cher
maldito diário
reclama e conclama o velho
que não se satisfaz com nada
eu canto o jazz e o jazz e o jazz
mas não é suficiente porque eu fui criado assim
não adianta discutir
ele não quer cuidar de ninguém nem aceita
que haja resistência sob as rodas da motocicleta
que haja existência sobre as mortes da triângula perplexa de minas gerais inadvertas das peculiaridades sonurnas
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