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você bate na porta dos céus, cansado.
mas o anjo dourado não te deixa entrar,
emburrado, ele diz:
não aceitamos pagamento fiado.
então é isso? você alcança a fronteira,
apenas para encontrar o portão:
trancado.
e que ceninha mais digna de pena.
sua mãe te conta que uma vez,
quando criança, você diz:
algum dia eu vou ficar bem rico,
daí você nunca mais vai precisar embalar
uma cesta básica na sua vida.
mas de novo, vocês embalam as coisas
e partem para alguma outra casa de aluguel.
daí já sabe né,
com todo esse tempo livre
e todo esse coração preso,
você adota essa filosofia,
essa ideia de que a sua vida é tão pequena
que você deveria embalar ela logo
e jogar fora enquanto pode.
mãe, quando é que a gente vai poder sonhar?
sem resposta.
mas o homem na tela insiste:
ele conta sobre mérito, sobre “fazer algo de diferente”.
a conclusão é que nada nunca é suficiente
e que não há nenhum horror que você possa ensinar a sua mãe
que a faca a laser da vida já não a tenha ensinado.
considere o seguinte:
um armário não é um artefato mágico,
você não pode abri-lo mais de uma vez
e esperar que a comida magicamente apareça.
e mesmo assim, faça de novo.
acene mais uma vez, agrade os donos
lamba o chão da igreja, entregue o dízimo.
embora a cotação do dólar não tenha coração
e a bolsa de valores não valha de nada, me ouça:
tudo. vai. ficar. bem.
o pastor entoando com fervor “amém, amém, amém!”
mas se esquecendo de dizer “amem”.
e ainda assim, ele quer falar sobre salvação.
você já viu acontecer. o tipo de salvação tamanha
que quase esmaga sua cabeça. não adiantou de nada.
nós todos sangramos igual no fim dessa mesma história.
essa voz no fundo da sua cabeça sempre dizendo:
você vai morrer nessa cidade, vitor.
e não reclame, mas a gente não tem espaço
para os seus sonhos no nosso obituário,
você leva eles com você, enterra bem longe daqui.
e todo esse tempo, você sabia da verdade.
que o único lugar onde pessoas como você
ganham sem dificuldade
é no índice de mortes.
e ainda assim,
você quer falar sobre salvação.
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